Todos os louvores são para Allah.
Ibn Muflih al-Hanbali disse:
Em al-Musnad, al-Sahihayn e em outro lugar narra-se que o Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) disse: “Nenhuma haamah e nenhum Safar.” Muslim e outros adicionaram as palavras “Nenhuma naw’ e nenhum ghoul”.
Haamah (pl. Haam) [coruja]: o povo da jaahiliyah costumava pensar que, quando alguém morria e era enterrado, uma coruja [haamah] sairia de seu túmulo. Os árabes costumavam pensar que os ossos do falecido se transformavam em corujas que voavam, e disseram que se alguém fosse assassinado, uma coruja sairia de sua cabeça e ela ficaria dizendo, “Dá-me de beber, dá-me de beber”, até que a pessoa assassinada fosse vingada e seu assassino fosse morto.
Safar: era dito que eles costumavam ter superstições relativas ao mês de Safar, então o Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) disse: “Nenhum Safar”. E foi dito que os árabes costumavam acreditar que havia uma cobra no ventre que feriria uma pessoa quando ela tivesse relação sexual, e que isso era contagioso, então o Legislador negou isso. Maalik disse: o povo da Jaahiliyah consideraria o Safar como não sendo sagrado em um ano e como sagrado no ano seguinte.
Naw’: (pl. al-Anwaa’) (uma estrela que se põe no momento que a outra nasce): isso refere-se às vinte e oito mansões ou fase lunares, como na ayah (interpretação do significado):
“E a lua, determinamos-lhe fases (...)”
[Ya-Sin 36:39].
A cada treze noites uma destas estrelas se põe no Oeste ao amanhecer, e outra nasce no Leste, assim, no final do ano todas elas terão vindo e ido. Os árabes costumavam acreditar que quando uma se punha e a próxima nascia, choveria, e atribuíam isso a elas (as estrelas), então diriam, “Temos chuva por causa de tal e tal naw’ (estrela que se põe no momento que a outra nasce),”
Chama-se naw’ porque quando a estrela que está se pondo, põe-se no Oeste, a outra que está nascendo, aparece (naa’a) no Leste, ou seja, ela nasce e desponta. E foi dito que naw’ significa “pôr”, que é o oposto.
Mas no caso daqueles que acreditam que a chuva vem pela vontade de Allah e dizem, “Temos chuva na hora de tal e tal naw’”, subentendendo que Allah geralmente faz chover nesta hora – existe certa controvérsia quanto a se dizer isso é haraam ou makruh.
Ghoul (pl. ghilaan): significa um tipo de jinn ou diabo. Os árabes costumavam pensar que o ghoul vivia na selva e que ele apareceria para as pessoas, poderia tomar diferentes formas e cores, e faria com elas perdessem seus caminhos, procurando matá-las. O Legislador rejeitou e negou totalmente esta ideia.
E dizia-se que isto não negava que os ghilaan existissem, ao invés disso era uma negação à crença dos árabes de que poderiam mudar a forma e a cor e fazer as pessoas perderem seus caminhos, logo, o significado de “nenhum ghoul” é que eles não podem fazer com que as pessoas percam seus caminhos. Isto é corroborado por outro hadith, “Não há nenhum ghoul, mas há um sa’aali”. Isto está em Muslim e em outros lugares. Sa’aali é um mágico entre os jinn, mas dentre eles existem mágicos que baseiam suas mágicas em confusão e ilusões... al-Khallal narrou a partir de Taawus que um homem o acompanhou, então um corvo crocitou e o homem disse, “Bom, bom.” Taawus disse-lhe, “O que há de bom nisso, e o que há de mal? Não venha comigo!”
(al-Aadaab al-Shar’iyyah, 3/369, 370)
Ibn al-Qayyim disse:
Alguns sábios disseram que as palavras “nenhuma pessoa sã deveria ser exposta a uma pessoa doente” ab-rogaram-se pelas palavras “Não há ‘adawa (contágio).” Isto não é correto. Isto é um exemplo onde o que se nega é diferente do que o que se afirma. O que o Profeta (que a paz e bênçãos de Allaah estejam sobre ele) negou quando disse que “Não há contágio e não há Safar” foi a crença dos mushrikin que era baseada em suas crenças de shirk. Com relação à proibição do Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) de expor pessoas saudáveis a pessoas doentes, existem duas interpretações:
(1)O medo de que as pessoas possam atribuir o que Allah decretou à 'adwa (contágio), o que pode confundir aqueles que ouvem isto e fazê-los acreditar em 'adwa. Não há contradição entre os dois relatos.
(2)Que isto se refere à exposição da pessoa doente à saudável, que pode ser os meios pelos quais Allah cria as doenças, então a exposição é a causa, mas Allah pode desviar seus efeitos por meios de outras causas, que a combate ou previne o efeito da enfermidade. Isto é Tawhid puro, diferente daquilo em que o povo do shirk acredita.
Isto é semelhante à negativa da intercessão no Dia da Ressurreição mencionada na ayah (interpretação do significado):
“(...) em que não haverá venda nem amizade nem intercessão (...)”
[al-Baqarah 2:254]
Isto não contradiz os ahadith mutawaatir* inequívocos que dizem que haverá intercessão no Dia da Ressurreição, porque o que Allah nega aqui é a espécie de intercessão que era conhecida entre os mushrikin, onde um intercessor se apresentaria e intercederia sem que lhe fosse permitido. A intercessão que é afirmada por Allah e Seu Mensageiro é aquela que vem depois que a Sua permissão for dada, como nas aayat (a interpretação do significado):
“(...)Quem intercederá junto dEle senão com Sua permissão? (...)”
[al-Baraqah 2:255]
“E eles não intercedem senão por quem Lhe agrada. E, do receio dEle, estão amedrontados”
[al-Anbiyaa’ 21:28]
“E a intercessão, junto dEle não beneficiará senão àquele a quem Ele a permitir”
[Saba’ 34:23]
Haashiyat Tahdhib Sunan Abi Dawud, 10/289-291)
E Allah é Aquele que concede a força para fazer o que é certo.
* Mutawaatir: tipo de transmissão de ahaadith que são relatados e transmitidos por grandes números de pessoas, de cadeia por cadeia de transmissão, em todas as gerações, por transmissão oral – portanto, não há possibilidade nenhuma de haver mentira na cadeia de transmissão, devido ao número enorme de pessoas envolvidas.