Domingo 21 Jumada Ath-Thani 1446 - 22 Dezembro 2024
Portuguese

Diretrizes sobre o tipo de interpretação errônea que não constitui kufr por parte daquele que segue essa má interpretação, e alguns outros comentários sobre esta questão

Pergunta

No seu site você discutiu muito bem em pormenor, em várias fatawa, a questão de desculpar aquele que segue noções equivocadas com base na ignorância e de como estabelecer provas com relação a este assunto (de modo que a pessoa não tem desculpa para continuar seguindo essa noção equivocada). Mas eu não encontrei diretrizes claras neste site com relação a como devemos abordar a questão de quem baseia sua opinião em uma interpretação errada. Eu li sobre este assunto, mas eu encontrei algumas contradições ao aplicar o que eu li de alguns sábios que discutem a abordagem certa. Por exemplo, alguns sábios dizem que se a interpretação errônea de um texto é uma interpretação válida do ponto de vista linguístico, então podemos desculpá-los com base nisso, mas se não é válida do ponto de vista linguístico, então não podemos desculpá-los e devemos considerá-los como kuffar (incrédulos). Mas quando se trata da aplicação desta orientação para os Ash'aris (escola de pensamento baseada no pensamento lógico), que interpretam a ideia de istiwa’ (Allah está acima do Trono) como significando que Ele "ganhou o controle", você descobre que ao refutá-los, eles dizem: Isto é algo para o qual não há base linguística, mas apesar disso eles não consideram como kuffaar aqueles que negam a ideia de Allah ser o Altíssimo, embora o Shaikh al-Islam (Ibn Taimiyah) tenha narrado de Abu Hanifah o ponto de vista de que aquele que nega a ideia de Allah ser o Altíssimo é um kaafir (incrédulo). Gostaríamos de algum esclarecimento com relação aos sábios que julgam muitas seitas, como os Jahamis e Qadaris, como kuffar. Está provado por algum dos sábios que ele considerava os Ash'aris como kuffar?

Texto da resposta

Todos os louvores são para Allah.

Este assunto é muito importante, e nós o discutiremos nos pontos seguintes:

-1-

Não há diferença entre desculpar uma pessoa por formar uma ideia errônea baseada na interpretação errada e desculpá-la por sua ignorância religiosa; na verdade, quem baseia sua ideia errada na má interpretação é mais merecedor de ser desculpado daquele que é ignorante, porque ele não é ignorante do que ele tem que acreditar; ao contrário, ele acredita que (o que quer que ele acredite) é verdade, e ele cita evidência para isso e a defende. Não faz diferença se o assunto em questão, para o qual aquele que baseia sua ideia em uma interpretação errônea, é uma questão prática ou teórica.

Shaikh al-Islam Ibn Taimiyah (que Allah tenha misericórdia dele) disse: Aquele que baseia sua ideia em uma intepretação errada, se sua intenção é seguir o Mensageiro (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele), ele não deve ser considerado como um kaafir ou como um malfeitor, se ele tentou resolver o assunto, mas o entendeu errado. Isto é algo que é bem estabelecido dentre as pessoas com relação aos assuntos práticos. Com relação às questões de crença, muitas pessoas consideram como um kaafir aquele que tem noções equivocadas sobre estas, mas esta opinião não é conhecida de qualquer um dos Sahaabah ou daqueles que os seguiram na verdade, ou de qualquer um dos principais sábios dos muçulmanos. Em vez disso, esta era originalmente uma das visões dos inovadores.

Fim da citação de Minhaaj as-Sunnah (5/239).

-2-

Isto não significa que eles não mereçam o castigo hadd (ou seja, a punição revelada), como foi dado o castigo hadd a Qudaamah ibn Maz'um, em relação à sua opinião que se baseou em sua má interpretação sobre o consumo de álcool – e isso não significa que eles não mereçam castigo e culpa, ou mesmo que suas ideias não mereçam ser descritas como desvio ou descrença, como veremos em detalhes abaixo. Na verdade, o assunto pode chegar ao nível de combatê-los, porque o objetivo por trás disso é desencorajar as pessoas desta inovação e proteger a religião do Islam.

Shaikh al-Islam Ibn Taimiyah (que Allah tenha misericórdia dele) disse: O que eu mencionei – sobre um muçulmano que abandona algum assunto obrigatório ou faz alguma ação proibida baseado em intepretação errada e conclusões erradas, ou como um resultado por seguir a opinião de outros – está claro na minha mente. Tal pessoa está em uma posição mais favorável, com relação à sua opinião, do que o incrédulo que baseia sua incredulidade na interpretação e noções erradas. Mas isso não exclui a luta contra aquele que transgrida (contra os muçulmanos) e mantenha opiniões baseadas em má interpretação, ou açoite aquele que bebe álcool e acredita que isso seja permitido com base em interpretações errôneas, etc., pois a intepretação errada não dispensa punição neste mundo, em todos os casos, pois o objetivo da punição é repelir o dano que pode ser causado pela ação do transgressor.

Fim da citação de Majmu‘ al-Fataawa (22/14) 

E ele (que Allah tenha misericórdia dele) disse:

No que diz respeito àquele que exibe abertamente o que pode ser prejudicial (quanto a ações ou crenças), seu dano deve ser repelido, mesmo que seja por meio de puni-lo, e se ele é um muçulmano malfeitor ou pecador, ou um homem de bom caráter que tentou resolver o problema, mas errou, e, na verdade, mesmo que ele seja um homem justo ou um sábio, se é alguém sobre quem temos poder ou não (ainda devemos tentar repelir o seu mal)... Da mesma forma, quem promove bid'ah que pode prejudicar as pessoas em relação ao seu bem-estar religioso deve ser punido, ainda que ele possa ser desculpado por ter tentado resolver o problema (mas entendeu errado) ou por ter seguido a opinião de outra pessoa.

Fim da citação de Majmu‘ al-Fataawa (10/375).

-3-

Nem toda interpretação alternativa é justificável ou desculpável de acordo com a shari'ah. Nenhuma interpretação alternativa é aceitável com respeito ao duplo testemunho de fé, à Unicidade de Allah, Exaltado seja, à afirmação da mensagem do Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele), à ressurreição, ou ao Paraíso e o Inferno. Chamar isso de interpretação alternativa em primeiro lugar não é aceitável; antes, é uma abordagem baatini (esotérica) e herética que leva à invalidação da religião. 

Abu Haamid al-Ghazaali (que Allah tenha misericórdia dele) disse: É essencial apontar outro princípio, o qual é que se uma pessoa tem uma opinião que é contrária a um texto mutawaatir* e afirma que é apenas uma interpretação alternativa, mas seu ponto de vista que se baseia em interpretações errôneas está muito distante do significado linguístico, e não está perto de todo, ao contrário, é completamente inverossímil, isto equivale a kufr e quem mantém essa opinião é um mentiroso, mesmo que ele alegue basear sua opinião em sua própria interpretação. Um exemplo disto é o que li nas palavras de alguns dos Baatinis, que Allah, Exaltado seja, é Único no sentido de que Ele concede e cria unicidade, e Ele é Onisciente no sentido que Ele concede conhecimento aos outros e o cria, e Ele existe no sentido de que Ele traz outros à existência. Mas quanto a Ele ser Único em Si mesmo, ou existir ou ser Onisciente no sentido de que este é Seu próprio atributo, isso não é correto de acordo com a opinião deles. Isto é kufr flagrante, porque interpretar a unidade criando a unidade não pode ser uma intepretação alternativa, de maneira alguma, e isto não tem base na linguística do idioma árabe, e não é possível sequer interpretá-lo desta maneira. Estes são exemplos de palavras da incredulidade descritas como interpretações alternativas.

* Mutawaatir: tipo de transmissão de ahaadith que são relatados e transmitidos por grandes números de pessoas, de cadeia por cadeia de transmissão, em todas as gerações, por transmissão oral – portanto, não há possibilidade nenhuma de haver mentira na cadeia de transmissão, devido ao número enorme de pessoas envolvidas.

Fim da citação de Faysal at-Tafriqah (p. 66, 67). 

Ibn al- Wazir (que Allah tenha misericórdia dele) disse: Da mesma forma, não há diferença de opinião quanto ao kufr de quem rejeita o que é bem conhecido e bem estabelecido a todos, e tenta escondê-lo com a desculpa de dar sua própria interpretação em relação a algo que não pode ser interpretado de qualquer forma que não seja o seu significado aparente, como os hereges em sua interpretação errônea de todos os nomes divinos, e até de todo o Alcorão e de todas os pareceres do Islam, e assuntos da outra vida como a ressurreição e o Paraíso e o Inferno.

Fim da citação de Ithaar al-Haqq ‘ala al-Khalq (p. 377).

-4-

O tipo de interpretação que pode ser válida é aquela que não debilita a religião do Islam, é aceitável numa base linguística de acordo com as regras da língua árabe, e quem mantém esta opinião pretende sinceramente buscar a verdade conforme os princípios do conhecimento. Essas pessoas têm uma desculpa válida se sua interpretação vir a ser errada. Esta é a mesma desculpa que os sábios mencionaram com relação às razões pelas quais os sábios podem ter pontos de vista diferentes sobre questões práticas.

Shaikh al-Islam (que Allah tenha misericórdia dele) disse: É assim que devemos examinar as declarações das pessoas nos casos em que aquele que sustenta essa opinião se torna um kaafir. Os textos que poderiam ajudar uma pessoa a chegar à conclusão certa podem não ter chegado a um sábio; ou ele pode ter tido conhecimento deles, mas eles não lhe foram provados para serem confiáveis ou ele não foi capaz de compreendê-los; ou ele pode ter desenvolvido algum mal-entendido pelo qual Allah pode desculpá-lo. Quem dentre os crentes se empenha em buscar a verdade, mas depois chega a uma conclusão errada, Allah perdoará seu erro, não importa o que seja, se tem a ver com questões teóricas ou práticas. Esta é a opinião dos Companheiros do Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) e a maioria dos principais sábios do Islam.

Fim da citação de Majmu‘ al-Fataawa (23/346). 

Al-Haafiz Ibn Hajar (que Allah tenha misericórdia dele) disse: Os sábios disseram: Qualquer um que chegue a uma conclusão errada, mas pode ser desculpado por sua má interpretação, não é um pecador, desde que sua interpretação possa ser válida do ponto de vista linguístico e que ele tenha certo grau de conhecimento.

Fim da citação de Fath al-Baari (12/304).

-5-

Há um hadith sahih que indica que se uma pessoa tem uma opinião errada sobre 'aqidah (crenças) que é baseada em interpretação errada, se essa má interpretação não levará a fazer a religião parecer sem sentido, então esta pessoa não é kaafir. Esse é o hadith no qual o Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) disse: "Os judeus se dividiram em setenta e uma seitas, uma das quais estará no Paraíso e setenta no Inferno. Os cristãos se dividiram em setenta e duas seitas, setenta e uma delas estará no Inferno e uma no Paraíso. Minha ummah se dividirá em setenta e três seitas, uma das quais estará no Paraíso e setenta e duas no Inferno." Foi dito: Ó Mensageiro de Allah, quem são eles? Ele disse: "O jamaa'ah (o corpo principal dos muçulmanos)." Narrado por Ibn Maajah (3992); classificado como sahih por al-Albaani.

Abu Sulaimaan al-Khattaabi (que Allah tenha misericórdia dele) disse: As palavras "Minha ummah se dividirá em setenta e três seitas" indica que todas estas seitas não estão fora dos limites do Islam, porque o Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) descreveu todas elas como sendo parte de sua ummah. Isso indica que aquele que sustenta uma opinião que é baseada em alguma interpretação não ultrapassa os limites do Islam, mesmo que ele esteja equivocado em sua interpretação.

Fim da citação de Ma‘aalim as-Sunan de al-Khattaabi (4/295). Consulte também: as-Sunan al-Kubra  de al-Bayhaqi (10/208).

Ibn Taimiyah (que Allah tenha misericórdia dele) disse: O mesmo se aplica a todas as setenta e duas seitas: quem dentre estas for um hipócrita é interiormente um incrédulo, e quem não é um hipócrita – ao contrário, acredita em Allah e em Seu Mensageiro interiormente – não é um incrédulo interiormente, mesmo que ele esteja errado em alguns pontos de vista que são baseados em má interpretação, não importa quão sério é seu erro.

Quem diz que cada uma das setenta e duas seitas é incrédula, cujo kufr (incredulidade) os coloca além dos limites do Islam, foi contra o Alcorão e Sunnah e o consenso dos Sahaabah (que Allah esteja satisfeito com eles), e, efetivamente, o consenso dos quatro imams e outros. Não há ninguém dentre eles que tenha considerado cada uma das setenta e duas seitas como incrédula; ao invés disso, essas seitas podem se considerar mutuamente como incrédulas, por causa de suas opiniões e crenças.

Fim da citação de Majmu‘ al-Fataawa (7/218, 219).

-6-

Aqueles dentre os sábios que decidiram que parte dos que seguem a inovação – que não constitui incredulidade – é kaafir, referiam-se ao kufr de um grau menor do que aquele que coloca alguém além dos limites do Islam.

Imam al-Baihaqi (que Allah tenha misericórdia dele) disse: O que temos narrado a partir de ash-Shaafa'i e outros imams sobre considerar esses inovadores como kuffaar se refere apenas a formas menores de kufr.

Fim da citação de Sunan al-Bayhaqi al-Kubra (10/207). 

Imam al-Baghawi (que Allah tenha misericórdia dele) disse: ash-Shaafa'i considerou lícito aceitar o testemunho dos inovadores e rezar atrás deles, sem restrições, mesmo que ele o tenha considerado como makruh. Este ponto de vista indica que, se ele descreve alguns deles como kuffar em qualquer ocasião, o que ele quis dizer foi kufr menor, como no versículo em que Allah, Exaltado seja, diz (interpretação do significado): “...E quem não julga conforme o que Allah fez descer, esses são os renegadores da Fé (ou seja, incrédulos – de um grau menor, visto que eles não agem sobre Leis de Allah)”[al-Maa’idah 5:44].

Fim de citação de Sharh as-Sunnah (1/228).

Iman ash-Shaafa’i talvez tenha usado a palavra kufr como forma de alertar sobre essa crença.

Shaikh al-Islam Ibn Taimiyah (que Allah tenha misericórdia dele) disse:

Pode ser narrado a partir de um deles que ele considerou com um kaafir aquele que sustentou alguma opinião, mas o que ele quis dizer foi que esta opinião constituía kufr, de forma a alertar contra isso; isso não quer dizer necessariamente que se uma opinião constitui kufr, todos que a sustentam como o resultado de ignorância ou má interpretação de um texto são considerados como kuffar. Afirmar kufr no caso de um indivíduo em particular é como uma confirmação de que ele é merecedor de punição na outra vida – e não há condições específicas e impedimentos com relação a fazer isso.

Fim da citação de Minhaaj as-Sunnah an-Nabawiyyah (5/240)

-7-

Com relação à diferença de opinião entre os principais sábios, com respeito ao povo da bid’ah (inovação), que acredita em uma ideia que constitui kufr, e se eles são kuffar ou não, essa se baseia na diferença entre considerar a opinião como constitutiva de kufr e considerar um indivíduo em particular como um kaafir. Eles podem decidir que uma crença particular constitui kufr por si só, mas não aplicam a decisão de kufr a qualquer indivíduo específico que acredite nessa opinião, a menos que as condições sejam atendidas e os impedimentos estejam ausentes.

Shaikh al-Islam Ibn Taimiyah (que Allah tenha misericórdia dele) disse:

Mas o que estamos tentando dizer aqui é que a opinião dos principais sábios sobre takfir (julgar uma pessoa como kaafir) são baseadas em suas diferenciações entre a ideia e o indivíduo que sustenta esta opinião. Consequentemente, parte deles narrou que havia certa controvérsia com relação a este assunto, mas estas pessoas não entenderam corretamente o que eles disseram. Alguns narraram dois relatos de Ahmad, sobre a questão de considerar o povo da bid’ah como kaafir em todos os casos, ao ponto que parece que havia um conflito ente estes dois relatos sobre se os Murji’ah e os Shi’ah, que dão preferência a ‘Ali, serem considerados como kuffaar. Talvez este grupo (que narrou dois relatos) pensou que eles deveriam ser considerados como kuffaar que morarão para sempre no Inferno, mas esta não é a opinião de Ahmad ou quaisquer outros principais sábios do Islam. Ao contrário, a opinião dele é definitivamente que ele não considerou como kuffaar aqueles que deram precedência a ‘Ali sobre ‘Uthmaam. Ao invés disso, suas declarações claramente indicam que devemos nos abster de considerar os Khaarijis, Qadaris e outros como kuffaar, e ele apenas considerou como kuffaar os Jahamis que negaram os nomes e atributos de Allah, porque as opiniões deles são claras e obviamente contrárias àquilo que foi trazido pelo Mensageiro (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele), e porque a realidade da opinião deles é que ela leva à negação do Criador. Ele tinha lidado com eles e sabia sobre sua realidade e que suas opiniões se resumiram a negar o Criador. Além disso, considerar os Jahamis como kuffaar era algo que era bem comprovado e foi narrado das primeiras gerações e dos sábios proeminentes, mas ele não considerou pessoas específicas dentre eles como kuffar, porque aquele que promove uma opinião é pior do que aquele que meramente a mantém, e o inovador que persegue quem discorda dele é pior do que aquele que meramente chama para isso, e aquele que descreve como kaafir alguém que discorda dele é pior do que quem meramente o persegue. Além disso, aqueles que estavam no poder (na época de Ahmad) tinham opiniões Jahami, que o Alcorão foi criado, e que Allah não seria visto na Outra Vida, e assim por diante, e eles chamaram as pessoas para isso, e as julgariam e puniriam se não concordassem com eles, e eles consideravam como kuffar todos aqueles que não concordavam com eles, ao ponto que se prendessem alguém eles não o deixariam ir até que ele aceitasse a opinião Jahami que o Alcorão foi criado, e assim por diante. Eles não nomeariam ninguém para uma posição de autoridade ou dariam qualquer soldo do bait al-maal a ninguém, a menos que tivesse essas opiniões. Mas, apesar disso, Imam Ahmad (que Allah tenha misericórdia dele) rezaria por misericórdia e perdão por eles, porque sabia que não lhes era claro que estavam descrendo no Mensageiro (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) e rejeitando o que ele trouxe; em vez disso, eles basearam suas opiniões na interpretação de algum texto, mas o entendiam errado e seguiam aqueles que lhes ensinara isso.

Da mesma forma, quando Hafs al-Fard disse que o Alcorão foi criado, ash-Shaafa’i lhe disse: Você descreu em Allah, o Todo-Poderoso, e ele explicou-lhe que aquela opinião representava kufr. Mas ele não decidiu que Hafs tinha apostatado apenas porque ele mantinha aquela opinião, pois ainda não havia sido estabelecida prova para ele tal que pudesse ser considerado kaafir, caso a rejeitasse. Se ash-Shaafa’i acreditasse que ele era um apóstata, ele teria tentado executá-lo. E ele claramente afirmou em seus livros que o testemunho dos que seguem bid’ah deve ser aceito, e orações podem ser oferecidas atrás deles.

Fim da citação de Majmu‘ al-Fataawa (23/348, 349).

-8-

Com relação às opiniões dos Ash’aris em particular, não pode haver dúvidas de que eles têm algumas noções erradas em suas crenças que são contrárias às crenças das primeiras gerações, e eles têm figuras proeminentes dentre os sábios a quem eles referem e seguem, mas eles não todos do mesmo nível com relação às crenças; ao contrário, existem algumas escolas de pensamento diferentes entre eles. Aqueles dentre eles que mais se aproximam das três melhores gerações, são os que dentre eles estão mais próximos da verdade. Ao aplicar o argumento mencionado acima (sobre a diferenciação entre ideias e indivíduos) aos Ash’aris, podemos perceber que nenhum dos sábios que considerou parte do que disseram como kufr estava apenas se referindo a elementos de kufr em suas ideias, e isso não significa que ele decidiu que eles mesmos, como indivíduos, tornaram-se kuffar por causa disso, e não quis dizer que alguém que mantem esta opinião é um kaafir. Ele estava se referindo a um tipo menor de kufr.Este grupo não é uma das seitas que estão além dos limites do Islam, e seus indivíduos não são kuffar. Em vez disso, eles devem ser desculpados, porque eles baseiam suas ideias em alguma interpretação errada com respeito ao que discutiram de assuntos e crenças.

Shaikh al-Uthaymin (que Allah tenha misericórdia dele) disse: Não sei de ninguém que considera os Ash’aris como kaafirs.

Fim de citação de Thamaraat at-Tadwin (nº 9), do Dr. Ahmad ibn ‘Abd ar-Rahmaan al-Qaadi.

-9-

Podemos resumir o parecer shar'i sobre os grupos inovadores citando o que o Shaikh 'Abd ar-Rahmaan as-Sa'di (que Allah tenha misericórdia dele) disse em um comentário claro e acadêmico:

Quem nega o que o Mensageiro (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) trouxe, ou nega parte disso, sem basear-se em alguma interpretação errônea de um texto do povo da bid'ah, é um kaafir, porque não acreditou em Allah e Seu Mensageiro, e é muito arrogante e teimoso para aceitar a verdade.

(a) Com relação ao inovador dentre os Jahamis, Qadaris, Khaarijis, Raafidis e sua laia, se ele sabe que sua inovação é contrária ao Alcorão e à Sunnah, e ainda persiste nela e a apoia, então ele é um descrente em Allah, o Todo-Poderoso, e está se opondo a Allah e Seu Mensageiro depois da orientação verdadeira tornar-se clara para ele.

(b) Se uma pessoa dentre os inovadores acredita em Allah e Seu Mensageiro, tanto exterior quanto internamente,e ele venera Allah e Seu Mensageiro, e é fiel ao que foi trazido pelo Mensageiro (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele), mas ele desenvolve uma noção ou prática que é contrária à verdade, e se engana em algumas das suas conclusões, e está errado em parte das suas interpretações, sem desacreditar ou rejeitar a orientação que está clara para ele, então ele não é um kaafir, mas ele é malfeitor e um inovador, ou ele é um inovador desencaminhado, ou pode ser perdoado porque o assunto era muito sutil e ele se esforçou para descobrir o que estava correto, mas não conseguiu.

Consequentemente, os Khaarijis, Mu'tazilah, Qadaris e outros seguidores de bid'ah são considerados como sendo de diferentes categorias:

(a) Parte deles é, sem dúvidas, kaafir, tal como o Jahamis radicais que negaram os nomes divinos e atributos, embora tenham percebido que suas inovações eram contrárias ao que foi trazido pelo Mensageiro (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele). Essas pessoas conscientemente não acreditavam no Mensageiro.

(b) Alguns deles são inovadores desencaminhados e malfeitores, tal como os Khaarijis que basearam suas opiniões erradas na má interpretação, e os Mu’tazilah que não descreem no Mensageiro, mas eles foram desencaminhados por causa de suas inovações, e pensavam que eles estavam seguindo a verdade. Logo, os Sahaabah (que Allah esteja satisfeito com eles) concordaram unanimemente que os Khaarijis eram inovadores e rebeldes, como foi narrado nos ahadith sahih que falam deles. Mas eles também estavam unanimemente de acordo que estes não estavam além dos limites do Islam, embora considerassem como permissível derramar o sangue dos Muçulmanos, e eles negaram que a intercessão pode ser garantida àqueles que cometem pecados maiores, e eles negaram muitos outros fundamentos da religião. Mas, porque eles basearam suas opiniões em suas interpretações errôneas de algum texto, eles não podem ser considerados como kuffar.

(c) Alguns dos inovadores mantinham ideias que eram menos graves do que isso, como muitos dos Qadaris, e os Kilaabis e Ash’aris. Estas pessoas são inovadoras e estão desencaminhadas com relação a certas questões fundamentais, nas quais desenvolveram opiniões que eram contrárias ao Alcorão e a Sunnah. Isto é algo que é bem sabido e bem definido. A inovação delas é de diferentes níveis, de acordo com o quão longe ou perto da verdade estão, e de acordo com as suas transgressões contra os seguidores da verdade ao rotulá-los como kuffaar, malfeitores ou inovadores, e de acordo com suas habilidades em chegar à conclusão correta e seus esforços para fazerem assim ou de outra forma. Uma discussão detalhada deste assunto levaria muito tempo.

Fim da citação de Tawdih al-Kaafiyah ash-Shaafiyah (156-158).

Esperamos que o que mencionamos acima tenha esclarecido o assunto para você. Pedimos que Allah nos ajude e a você a alcançar o conhecimento benéfico e a praticar ações justas.

E Allah sabe melhor. 

A Fonte: Islam Q&A