Todos os louvores são para Allah.
Em primeiro lugar:
O que é exigido do muçulmano é que ele entenda e creia no Tawhid (a Unicidade de Allah) e que siga o Alcorão e a Sunnah de acordo com o entendimento das primeiras gerações virtuosas (salaf), e que evite a inovação (bid'ah) e seu povo. As tariqahs (caminhos) sufis estão sob a designação do povo da inovação, por isso os muçulmanos devem manter-se longe de seus caminhos e não devem seguir seus passos.
Em segundo lugar:
Não é admissível levar levianamente a questão de chamar um muçulmano de incrédulo (kaafir) ou malfeitor (faasiq), porque isso está sob a designação de fabricar mentiras contra Allah e contra Seus servos muçulmanos. Não é permissível chamar um muçulmano de incrédulo ou malfeitor a menos que ele cometa aquilo que apoiaria essa denominação em palavras ou ações, com base em evidências claras do Alcorão e da Sunnah.
Além disso, não é permitido chamá-lo de incrédulo ou malfeitor, até que todas as condições exigidas para chamá-lo assim sejam cumpridas, e todos os impedimentos a isto estejam ausentes.
Uma dessas condições é que ele esteja ciente de que suas palavras e práticas contradizem os ensinamentos do Islam, o que o levou a se tornar um incrédulo ou malfeitor.
Um dos impedimentos para isso é basear sua própria ação em uma má interpretação, ou ter algum argumento ilusório o qual acredite fornecer evidências para sua prática, ou estar em tal situação que ele não consegue entender as evidências de uma maneira adequada. Uma pessoa só pode ser considerada incrédula depois de haver certeza de que ela está deliberadamente indo contra os ensinamentos do Islam e não é ignorante sobre o assunto.
Para mais informações sobre as diretrizes sobre se uma pessoa pode ou não ser considerada incrédula, consulte a resposta à pergunta nº 85102.
Em terceiro lugar:
A opinião correta no que tange o assunto da ignorância e se ela é uma desculpa válida é que, se um muçulmano é comprovadamente muçulmano, ele não pode ser extirpado desta descrição com base em meras dúvidas; ao contrário, ele não pode ser extirpado desta descrição a não ser com base na certeza, e depois de ter estabelecida evidência contra ele de tal forma que não lhe reste desculpa.
O Shaikh Muhammad Ibn ‘Abd al-Wahhab (que Allah tenha misericórdia dele) disse:
Se não descrevemos como incrédulo quem adora o ídolo no túmulo de 'Abd al-Qaadir ou adora o ídolo no túmulo de Ahmad al-Badawi [os ídolos em questão são estruturas sobre os túmulos, aos quais algumas pessoas dedicam práticas que constituem adoração] e afins, por causa de sua ignorância e porque não há ninguém que os tenha alertado de seu erro, então como poderíamos considerar incrédulo alguém que nunca associou nada a Allah se ele não se voltar a nós, ou se não considerasse outros como incrédulos e os combatesse? “Glorificado seja! Isto é formidável infâmia." [an-Nur 24:16].
Fim de citação de ad-Durar as-Saniyyah (1/104)
Sabe-se bem que, basicamente, estes não árabes cresceram em países e sociedades onde a ignorância de muitos dos pareceres e ensinamentos do Islam é a norma, especialmente no que concerne a assuntos relacionados com o Sunan e também com os fundamentos do Tawhid. Ainda mais, acreditam em termos gerais, mas são ignorantes quanto a muitos dos detalhes.
O Shaikh al-Islam Ibn Taymiyah (que Allah tenha misericórdia dele) disse:
Reputar alguém como incrédulo é como uma advertência do fogo do inferno, mesmo que seja porque aquele que é descrito desta maneira esteja dizendo algo que implique rejeição daquilo que o Mensageiro ensinou; talvez este homem seja novo no Islam, ou vive em local ermo, sem acesso aos centros de ensino.
Tal pessoa não deve ser considerada incrédula por ter rejeitado algo dos ensinamentos do Islam, até que, no seu caso, uma prova tenha sido estabelecida. Um homem pode não ter ouvido falar de algum texto em particular, ou pode ter ouvido falar a seu respeito, mas, para ele, esse texto não foi provado como correto e fidedigno, ou talvez ele já tenha certa ideia estabelecida em sua mente que contradiga o texto e, portanto, ele o interpretou mal.
Eu sempre me lembro do hadith em as-Sahihein sobre o homem que disse: “… Quando eu morrer, queime-me, depois esmague (meus ossos), então espalhe-me no vento e no mar, pois, por Allah, se Ele me segurar, castigar-me-á como jamais castigou ninguém. Assim o fizeram, então Ele disse para a terra: ‘Devolvei o que tomastes’, e lá estava ele. Então, perguntou-lhe: ‘Por que fizestes isso?’ Ele disse: ‘Temor de Ti, ó Senhor.’ E, por isso, Allah o perdoou”.
Este foi um homem que duvidou do poder de Allah, e duvidou que Ele fosse capaz de trazê-lo de volta à vida depois que suas cinzas fossem espalhadas; na verdade, ele acreditava que não seria ressuscitado, o que constitui descrença de acordo com o consenso dos muçulmanos. Mas, ele era ignorante e não sabia disso, embora fosse um crente que temeu que Allah o punisse, então por isso Ele o perdoou.
Se uma pessoa interpreta erroneamente um texto religioso tendo condições de comprometer-se em ijtihad (analogia e análise) e dispõe-se a seguir o Mensageiro, é mais provável que ela seja perdoada do que alguém como a pessoa mencionada no hadith.
Fim de citação de Majmu’ al Fataawa (3/231).
Ele também disse:
Muitas pessoas podem crescer em locais e épocas onde não tenha restado muito do conhecimento das revelações de Allah, ao ponto de não haver sobrado ninguém que pudesse ensinar do Livro e da sabedoria – aquilo com o que Allah enviou Seu Mensageiro – aos outros, de forma que não sabem muito daquilo com o que Allah enviou Seu Mensageiro, e não há ninguém que possa lhes ensinar. Essas pessoas não podem ser rotuladas de incrédulas. Sendo assim, os sábios proeminentes concordaram unanimemente que quem quer que tenha crescido no meio do nada, longe das pessoas do conhecimento e fé, e é novo no Islam, caso rejeite algum desses notórios pareceres mutawaatir (de transmissão coesa e em massa) do Islam, não deve ser considerado incrédulo até que aprenda a mensagem com a qual o Mensageiro foi enviado.
Fim de citação de Majmu’ Al-Fataawa (11/407).
O fato de simplesmente conhecerem uma tradução dos significados do Alcorão não é suficiente; mesmo que tivessem condições de lê-lo em árabe, não é suficiente. Quantos daqueles que falam árabe e têm certo conhecimento da língua ainda não conseguem compreender a partir da leitura dos textos do Alcorão e Sunnah que aquilo que estão fazendo está errado ou inválido, ou se é shirk ou não.
Al-Haafiz Ibn Hajar (que Allah tenha misericórdia dele) disse:
Al-Ghazaali disse em seu livro at-Tafriqah bayna al-Imaan wa’z-Zandaqah:
O que devemos cuidar muito para não fazermos é chamar as pessoas de incrédulas, e devemos evitar fazer isso o tanto quanto for possível, pois o erro de não rotular mil incrédulos como incrédulos é menos grave do que o erro de derramar o sangue de um muçulmano.
Fim de citação de Fath al-Baari (12/300).
O que o questionador deve fazer neste caso é esforçar-se para chamar seus parentes e conhecidos ensinando-lhes o Tawhid e Sunnah verdadeiros, e pacientemente suportar suas ofensas, rejeição e dureza. A melhor atitude que ele pode ter com relação às pessoas é o que Allah diz (interpretação do significado):
“E quem melhor, em dito, que aquele que convoca os homens a Allah e faz o bem e diz: ‘Por certo, sou dos moslimes’? E o bom e o mau não se igualam. Revida o mal com o que é melhor: então, eis aquele entre o qual e ti há inimizade, como íntimo aliado. E isto não se confere senão aos que pacientam. E isto não se confere senão ao dotado de magnífica sorte. E, se, em verdade, alguma instigação de Satã te instiga, procura refúgio em Allah. Por certo, Ele é O Oniouvinte, O Onisciente.” [Fussilat, 41:33-36]
E Allah sabe melhor