Todos os louvores são para Allah.
Não há contradição entre as duas visões de tal forma que precisaríamos pensar em como reconciliá-las. Em vez disso, a razão pela qual o questionador está confuso é que ele está misturando duas coisas nas quais devemos acreditar e que são ambas verdadeiras, louvado seja Allah.
O que os muçulmanos pensam sobre os Evangelhos?
A primeira questão é acreditar que Allah, o Senhor dos Mundos, revelou um Livro ao Seu Profeta ‘Issa (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) e que o nome deste livro é Evangelho (Injil) . Estes são princípios básicos de fé nos quais devemos acreditar. Allah diz (interpretação do significado):
“O Mensageiro crê no que foi descido, para ele, de seu Senhor, e, assim também, os crentes. Todos creem em Allah e em Seus anjos e em Seus Livros e em Seus Mensageiros. E dizem: ‘Não fazemos distinção entre nenhum de Seus Mensageiros.’ E dizem: ‘Ouvimos e obedecemos. Rogamos Teu perdão, Senhor nosso! E a Ti será o destino.’”. [Al-Baqarah 2:285]
O Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) disse a Jibril (que a paz esteja sobre ele), quando lhe perguntou sobre a fé, como mencionado no conhecido Hadith: “Fé é crer em Allah, Seus anjos, Seus livros, Seus mensageiros, o Último Dia, e crer em Sua vontade e decreto divino, seja ele bom ou mau.” (Al-Bukhari e Muslim)
Descrer ou duvidar disso é desorientação e descrença em Allah
Allah diz (interpretação do significado):
“Ó vós que credes! Crede em Allah e em Seu Mensageiro e no Livro que Ele fez descer sobre Seu Mensageiro, e no Livro que Ele fizera descer antes. E quem renega a Allah e a Seus anjos e a Seus Livros e a Seus Mensageiros e ao Derradeiro Dia, com efeito, descaminhar-se-á com profundo descaminhar. Por certo, aos que creram, depois renegaram a Fé, em seguida, creram, depois renegaram a Fé, em seguida, acrescentaram-se em renegação da Fé, não é admissível que Allah os perdoe nem os guie a caminho algum.” [An-Nissa’ 4:136-137]
“Por certo, os que renegam a Allah e a Seus Mensageiros, e desejam fazer distinção entre Allah e Seus Mensageiros, e dizem: ‘Cremos em uns e renegamos a outros’, e desejam tomar, entre isso, um caminho intermediário, esses são os verdadeiros renegadores da Fé. E, para os renegadores da Fé, preparamos aviltante castigo.” [An-Nissa’ 4:150-151]
O Evangelho original existe hoje?
A segunda questão é o Evangelho ou, mais precisamente, os Evangelhos que os cristãos têm hoje. Embora um dos princípios básicos da nossa fé seja acreditar no Evangelho que foi revelado a ‘Issa (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele), também acreditamos que, além do Alcorão, nenhum livro permaneceu como foi revelado por Allah, nem o Evangelho nem qualquer outro. Mesmo os próprios cristãos não acreditam que os livros que possuem foram revelados por Allah nessa forma, nem afirmam que o Messias escreveu o Evangelho, ou pelo menos que foi escrito durante a vida dele.
Imam Ibn Hazm (que Allah tenha misericórdia dele) disse em Al-Fasl Fil-Milal (2/2):
“Não precisamos nos esforçar muito para provar que os Evangelhos e todos os livros dos cristãos não vieram de Allah ou do Messias (que a paz esteja sobre ele), como precisávamos fazer em relação à Torá e aos livros – atribuídos aos Profetas – que os Judeus possuem, porque os Judeus afirmam que a Torá foi revelada por Allah a Mussa, então precisávamos estabelecer provas de que esta afirmação deles é falsa.
No que diz respeito aos cristãos, eles próprios resolveram a questão, porque não acreditam que os Evangelhos foram revelados por Allah ao Messias, ou que o Messias os trouxe. Todos, desde o início dos tempos até hoje, camponeses, reis, nestorianos, jacobitas, maronitas e ortodoxos concordam que existem quatro relatos históricos escritos por quatro homens conhecidos em diferentes épocas.
- O primeiro deles é o relato escrito por Mateus, o levita, que foi discípulo do Messias. Ele o escreveu nove anos depois que o Messias foi elevado aos céus. Ele o escreveu em hebraico na Judéia, Palestina, e preencheu aproximadamente vinte e oito páginas em uma escrita de tamanho médio.
- O segundo relato foi escrito por Marcos, um discípulo de Simão bin Yuna, chamado Pedro. Ele o escreveu vinte e dois anos depois que o Messias foi elevado aos céus. Foi escrito em grego, na Antioquia, terra dos bizantinos. Dizem que foi Simão quem o escreveu, então ele apagou seu nome no início e atribuiu ao seu discípulo Marcos. Preenchia vinte e quatro páginas escritas em uma caligrafia de tamanho médio. Simão era um discípulo do Messias.
- O terceiro relato escrito foi o de Lucas, médico da Antioquia que também era discípulo de Simão Pedro. Ele o escreveu em grego depois que Marcos escreveu seu relato, e é semelhante em extensão ao Evangelho de Mateus.
- O quarto relato foi escrito por João, filho de Zebedeu, outro discípulo do Messias, sessenta e tantos anos depois de o Messias ter sido elevado aos céus. Ele o escreveu em grego e ocupava vinte e quatro páginas em uma caligrafia de tamanho médio.”
Quem escreveu os Evangelhos e quando foram escritos?
Shaikh Al-Islam Ibn Taimiyah (que Allah tenha misericórdia dele) disse em Al-Jawab As-Sahih (3/21):
“No que diz respeito aos Evangelhos que os cristãos têm, existem quatro: Mateus, Marcos, Lucas e João. Concorda-se que Lucas e Marcos não viram o Messias; porém, ele foi visto por Mateus e João. Esses quatro relatos que chamam de Evangelho, e cada um deles também é denominado Evangelho, foram escritos por esses homens depois que o Messias foi elevado aos céus. Eles não disseram que eram a palavra de Allah ou que o Messias as transmitiu de Allah, mas sim, eram a narração de algumas das palavras do Messias e alguns de seus feitos e milagres.”
Além disso, estes livros que foram escritos depois da época do Messias não permaneceram na sua forma original. As versões originais foram perdidas há muito tempo.
Ibn Hazm (que Allah tenha misericórdia dele) disse:
“No que diz respeito aos cristãos, não há disputa entre eles, ou qualquer outra pessoa, de que apenas cento e vinte homens acreditaram no Messias durante a sua vida... e todos aqueles que acreditaram nele esconderam-se e tiveram medo durante e após a vida dele. Chamavam as pessoas para a sua religião em segredo e nenhum deles se revelava ou praticava a sua religião abertamente, porque qualquer um que fosse apanhado seria executado.
Eles continuaram assim, sem se mostrarem, e não tiveram nenhum lugar onde estivessem seguros durante trezentos anos depois que o Messias foi elevado aos céus.
Durante este tempo, o Evangelho que havia sido revelado por Allah desapareceu, com exceção de alguns versículos que Allah preservou como prova e repreensão às pessoas, como mencionamos. Então, quando o Imperador Constantino se tornou cristão, os cristãos prevaleceram e começaram a praticar a sua religião abertamente e a se reunirem em segurança.
Se uma religião é assim, com os seus seguidores a praticando em segredo e vivendo com medo constante da espada, é impossível que as coisas sejam transmitidas de forma sensata através de uma cadeia contínua de narradores, e os seus seguidores não podem protegê-la ou impedir que ela fosse transmitida de forma distorcida.” (Al Fasl, 2/4-5)
Além desta enorme ruptura na cadeia de transmissão dos seus livros, que durou dois séculos, estes livros não permaneceram nas línguas em que foram originalmente escritos, mas foram traduzidos, mais de uma vez, por pessoas cujo nível de conhecimento e honestidade são desconhecidos. As contradições nestes livros e suas deficiências estão entre as evidências mais fortes de que foram distorcidos e de que não são o Evangelho (Injil) que Allah revelou ao Seu servo e Mensageiro ‘Issa (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele). Allah realmente falou a verdade quando disse (interpretação do significado):
“E não ponderam eles o Alcorão? E, fosse vindo de outro que Allah, encontrariam nele muitas discrepâncias.” [An-Nissa’ 4:82].
E Allah sabe mais.