Todos os louvores são para Allah.
O que é um voto?
Al-Isfahani (que Allah tenha misericórdia dele) diz, em seu livro Mufradat Alfaz al-Quran (Vocabulário do Alcorão), pág. 797:
“Al-Nadhr (voto/promessa): quando a pessoa se obriga a fazer algo que não é obrigatório por causa de algo que ela quer que aconteça. Allah diz (interpretação do significado): ‘[Mariam disse:] Por certo, fiz votos de silêncio aO Misericordioso…’ [Mariam 19:26].”
Então um voto é a ação, por parte de uma pessoa que é adulta e de mente sã (mukallaf), de se obrigar a fazer algo que não é obrigatório, quer pretenda fazê-lo imediatamente ou condicione sua ação a outra coisa.
Os votos são mencionados no Alcorão em termos de aprovação. Allah diz (interpretação do significado): “Por certo, os virtuosos beberão de uma taça cuja mistura é de kafur, uma fonte, de que os servos de Allah beberão, fazendo-a emanar, abundanemente, porque são fiéis aos votos e temem um dia, cujo mal será alastrante.” [al-Insan 76:5-7]. Então, Allah faz do medo deles dos horrores do Dia da Ressurreição e do cumprimento de seus votos algumas das razões para sua salvação e admissão no Paraíso.
Deve-se cumprir os votos?
Cumprir votos legítimos (Shar’i) é obrigatório de acordo com a Shari’ah. Allah diz (interpretação do significado): “Em seguida, que se asseiem, e que sejam fiéis a seus votos…” [al-Hajj 22:29]. Imam al-Shawkani disse: “Isso significa que eles têm que fazê-lo.”
Numerosos ahaadith foram relatados pelo Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) desencorajando votos e descrevendo-os como makruh. Abu Hurairah disse: “O Mensageiro de Allah (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) disse: ‘Não façam votos, pois os votos não mudam o qadar (o decreto divino) nem um pouco, mas fazem a pessoa mesquinha abrir mão de algo.’” (Relatado por Muslim)
‘Abdullah ibn ‘Umar (que Allah esteja satisfeito com ambos) disse: “O Mensageiro de Allah (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) começou a nos desencorajar de fazer votos, e disse: ‘Eles não mudam nada, embora possam fazer o avarento abrir mão de algo.’” (Relatado por al-Bukhari e Muslim)
Alguém pode perguntar, como é que aqueles que cumprem seus votos são elogiados, ao passo que fazer votos é desaconselhável? A resposta é que o tipo de voto que é louvável é o voto para oferecer atos de adoração que não estão conectados a nada — ou seja, não condicionais a nada — que faz com que um homem se force a oferece-los e o impeça de ser preguiçoso, ou em agradecimento por alguma bênção.
Quais são os tipos de votos desaconselháveis?
Os tipos de votos que são desaconselháveis são de diferentes tipos, incluindo votos que são feitos em troca de algo, pelos quais uma pessoa condiciona a prática de um ato de adoração à obtenção de algo ou à prevenção de algo, e se isso não acontecer, ela não oferece o ato de adoração.
Por que esses tipos de votos são desaconselháveis?
Isso é desaconselhado, talvez pelas seguintes razões:
- Porque, então, a pessoa que fez o voto estaria oferecendo o ato de adoração relutantemente, pois se tornou algo que ela não pode evitar ou escapar.
- Porque quando a pessoa que faz o voto condiciona o ato de adoração à obtenção do que deseja, seu voto se torna um tipo de troca ou escambo que corrompe sua intenção; se o doente não for curado, ele não dará a caridade que jurou dar se fosse curado. Isso é avareza, porque o avarento não dará nada, exceto algo em troca nesta vida (ao contrário da Outra Vida), e o que ele ganha é mais do que dá.
- Algumas pessoas ignorantemente acreditam que fazer um voto garante que receberão o que fizeram com o voto, ou que Allah fará isso acontecer para elas por causa do voto.
- Outra crença ignorante é a ideia de que fazer um voto pode mudar o qada’ (o decreto divino), ou que pode trazer algum benefício imediato ou afastar algum dano. Então, os votos foram desencorajados para que as pessoas ignorantes não acreditassem em tais coisas, e como um aviso do perigo que tais atitudes apresentam para a crença correta.
Tipos de votos e seu cumprimento
- Votos que devem ser cumpridos (votos de oferecimento de atos de adoração e obediência a Allah)
Isso inclui todos os votos que envolvem uma promessa de oferecimento de algum tipo de ato de adoração, como rezar, jejuar, realizar ‘Umrah ou Hajj, manter laços familiares, fazer I’tikaf (retiro para adoração na mesquita), jihad, ordenar o que é bom e proibir o que é mau. Por exemplo, uma pessoa pode dizer: “É meu dever para com Allah jejuar tais e tais (dias)” ou dar tal e tal em caridade, ou ir para o Hajj este ano, ou rezar duas rak’ahs na Masjid al-Haram [em Makkah] em agradecimento a Allah por curar uma pessoa doente. Ou ela pode fazer um voto de oferecer algum ato de adoração condicional a algo que o beneficiará se acontecer, então ele diz: “Se meu ente querido ausente retornar ou Allah me proteger do mal do meu inimigo, eu jejuarei tais e tais (dias) ou darei tal e tal em caridade.”
O Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) disse: “Quem quer que prometa oferecer algum ato de adoração e obediência a Allah, então que o faça, e quem quer que prometa cometer algum pecado, que não o faça.” (Relatado por al-Bukhari, 6202)
Se um homem promete oferecer algum ato de adoração, então as circunstâncias mudam e o impedem de cumprir seu voto, como ele promete jejuar por um mês ou ir para o Hajj ou ‘Umrah, então adoece e não consegue jejuar ou viajar, ou promete dar caridade, então fica pobre e não consegue dar o que prometeu, em tais casos a pessoa deve oferecer expiação (kaffarah) por quebrar seu voto, que é o mesmo que kaffarat yamin (expiação por quebrar um juramento). Ibn ‘Abbas (que Allah esteja satisfeito com ambos) disse: “Quem fizer um voto e não conseguir cumpri-lo, sua expiação é kaffarat yamin.” (Relatado por Abu Dawud. Al-Hafiz Ibn Hajar disse em Bulugh al-Maram, sua isnad é sahih, e alguns huffadh acharam que era mawquf).
Shaikh al-Islam Ibn Taimiyah disse em al-Fatawa (33/49): “Se um homem pretende fazer um voto de oferecer algum ato de adoração e obediência a Allah, então ele deve cumpri-lo. Se ele não cumprir seu voto a Allah, deve oferecer kaffarat yamin, de acordo com a maioria dos salaf (primeiras gerações do Islam).”
- Votos que são proibidos de cumprir, e para os quais kaffarat yamin deve ser oferecido
Isso inclui diferentes tipos de votos:
- Votos para cometer pecado:
Este é todo voto que envolve desobediência a Allah, como votos de levar óleo, velas ou dinheiro para sepulturas ou santuários (mash-hads), ou visitar túmulos e santuários politeístas. Isso é, de certa forma, como fazer votos a ídolos. Também é proibido cumprir votos que prometem cometer algum pecado, como: zina (adultério, fornicação), beber álcool, roubar, usurpar propriedade de órfãos, negar os direitos de alguém ou cortar laços familiares excluindo um certo parente ou não entrando em sua casa sem nenhuma razão shar’i. Tudo isso não é permitido de forma alguma, e (a pessoa que faz tal voto) deve oferecer kaffarat yamin em expiação por seu voto. A evidência (dalil) de que não é permitido cumprir esse tipo de voto é o hadith de ‘Aishah (que Allah esteja satisfeito com ela) que relatou que o Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) disse: “Quem quer que prometa oferecer algum ato de adoração e obediência a Allah, então que o faça, e quem quer que prometa cometer algum pecado, que não o faça.” (Relatado por al-Bukhari). ‘Imran ibn Hussein relatou que o Mensageiro de Allah (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) disse: “Não deve haver cumprimento de um voto da prática de algum pecado.” (Relatado por Muslim, 3099).
- Votos que vão contra um texto shar’i (do Alcorão ou Sunnah)
Se um muçulmano faz um voto, então fica claro para ele que esse voto vai contra um texto sahih que evidentemente contenha algum comando ou proibição, então ele deve se abster de cumprir seu voto e deve oferecer kaffarat yamin por ele. A evidência para isso é o relato de al-Bukhari (que Allah tenha misericórdia dele) de Ziyad ibn Jubair, que disse: “Eu estava com Ibn ‘Umar e um homem perguntou a ele: ‘Fiz um voto de jejuar toda terça ou quarta-feira enquanto eu viver, e acontece que este dia é Yawm al-Nahr (o Dia do Sacrifício, ou seja, o primeiro dia de ‘Eid al-Adha).’ Ele disse: ‘Allah nos ordenou a cumprir os votos e estamos proibidos de jejuar em Yawm al-Nahr.’ Ele repetiu isso para ele, e não disse nem mais nem menos.” (Sahih al-Bukhari, 6212).
O Imam Ahmad relatou que Ziyad ibn Jubair disse: “Um homem perguntou a Ibn ‘Umar, enquanto ele caminhava em Mina, ‘Eu fiz um voto de jejuar toda terça ou quarta-feira, e acontece que este dia é Yawm al-Nahr, então o que tu pensas?’ Ele disse, ‘Allah, exaltado seja, nos ordenou a cumprir nossos votos, e o Mensageiro de Allah (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) nos proibiu [ou ele disse: fomos proibidos] de jejuar em Yawm al-Nahr.’ O homem pensou que não o tinha ouvido direito, então ele disse, ‘Eu fiz um voto de jejuar toda terça ou quarta-feira, e acontece que este dia é Yawm al-Nahr.’ [Ibn ‘Umar] disse, ‘Allah, exaltado seja, nos ordenou a cumprir nossos votos, e o Mensageiro de Allah (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) nos proibiu [ou ele disse: fomos proibidos] de jejuar em Yawm al-Nahr.’ Eles continuaram repetindo essa troca até chegarem à montanha.”
Al-Hafiz Ibn Hajar disse: “Os estudiosos concordam que não é permitido jejuar em Yawm al-Fitr e Yawm al-Nahr, nem como um ato de adoração nem em cumprimento de um voto.”
- Votos sobre os quais não há outra regra além de kaffarat yamin
Existem alguns votos sobre os quais não há outra regra além de que aquele que faz tal voto deve oferecer kaffarat yamin em expiação por seu voto. Estes incluem:
- Votos não específicos
Se um muçulmano faz um voto, mas não especifica sobre o que é, como dizer: “Eu faço um voto se Allah curar esta pessoa doente” – mas não especifica nada, então ele deve oferecer kaffarat yamin. ‘Uqbah ibn ‘Amir relatou que o Mensageiro de Allah (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) disse: “A expiação por um voto é kaffarat yamin.” (Relatado por Muslim). Imam An-Nawawi disse: “Malik e muitos outros – na verdade a maioria – interpretaram isso como significando votos absolutos, como dizer ‘Eu juro’ [sem ser específico].” (Sharh Muslim li’l-Nawawi, 11/104).
- Votos sobre coisas que não se possui
Se uma pessoa faz um voto sobre algo que não é seu, então ela não tem opção a não ser oferecer kaffarat yamin. Por exemplo, se ele promete dar caridade da riqueza de outra pessoa, ou libertar o escravo de outra pessoa, ou dar para alguém um pomar que não é seu. A evidência para esta regra é o hadith de ‘Amr ibn Shu’aib de seu pai de seu avô, que disse: “O Mensageiro de Allah (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) disse: ‘O filho de Adam não pode fazer nenhum voto sobre o que não é seu, ele não pode libertar (nenhum escravo) que não seja seu, e ele não pode se divorciar de nenhuma esposa que não seja sua.” (Relatado por at-Tirmidhi, 1101. Ele disse: O hadith de ‘Abdullah ibn ‘Amr é um hadith sahih Hassan).
- Votos onde se tem a opção de cumprir ou de oferecer kaffarat yamin
Existem votos onde uma pessoa tem a opção de cumprir o voto ou de oferecer kaffarat yamin. Este tipo de voto inclui:
- Votos feitos em desespero ou com raiva
Isso significa todo voto que vem na forma de um voto feito para incentivar que algo seja feito ou para impedir que algo seja feito, ou para jurar que algo é verdadeiro ou não, onde a pessoa realmente não pretende fazer um voto para oferecer algum ato de adoração. Por exemplo, um homem pode dizer com raiva: “Se eu fizer isso e aquilo, terei que ir para o Hajj, ou jejuar por um mês, ou dar mil dinares em caridade” ou “Se eu falar com fulano, terei que libertar um escravo ou me divorciar de minha esposa”, e assim por diante, então ele faz a coisa que disse que não faria, mas tudo o que ele realmente quis dizer com suas palavras foi que ele não faria aquela coisa – ele não tinha intenção nem de fazer aquilo e nem de fazer o que jurou que faria.
Em tal caso, essa pessoa – que fez o voto por uma questão de argumentação ou para expressar a urgência de fazer ou se abster de algo – tem a escolha de cumprir o voto ou expiá-lo oferecendo kaffarat yamin, porque seu voto era essencialmente um juramento (yamin).
Ibn Taimiyah disse: “Se um voto é feito na forma de um juramento, como dizer: ‘Se eu viajar com você, então terei que ir para o Hajj, ou dar toda a minha riqueza em caridade, ou libertar um escravo’, na opinião dos Sahabah e da maioria dos estudiosos, isso é hilf al-nadhr (um juramento por voto), não é um voto. Se ele não fizer o que prometeu fazer, é suficiente que ele ofereça kaffarat yamin.” Em outro lugar, ele disse: “A obrigação dos votos feitos com raiva ou desespero é uma de duas coisas, de acordo com a maioria: ou expiação, ou fazer a coisa prometida. Se ele não cumprir o voto, ele deve oferecer expiação (kaffarah).”
- Votos sobre coisas permitidas.
Isso significa todo voto que inclui coisas permitidas, como prometer usar um certo tipo de roupa, comer alimentos especiais, montar em um certo animal, entrar em uma certa casa e assim por diante.
Thabit ibn al-Dahhak disse: “Um homem jurou sacrificar um camelo em Bawanah (de acordo com um relato: porque um filho homem havia nascido dele). Ele veio ao Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) e disse: “Eu prometi sacrificar um camelo em Bawanah.” O Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) disse: “Havia algum dos ídolos da Jahiliyyah lá que as pessoas costumavam adorar?” Ele disse: “Não.” Ele perguntou: “Eles costumavam celebrar algum de seus festivais lá?” Ele disse: “Não.” O Mensageiro de Allah (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) disse: “Então cumpra seu voto, pois não há cumprimento de votos que envolvam desobediência a Allah, ou que digam respeito a coisas que o filho de Adam não possui.” (Relatado por Abu Dawud, 2881)
Este homem prometeu sacrificar um camelo em Bawanah (um lugar além de Yanbu’) em agradecimento a Allah, exaltado seja, porque Ele o abençoou com um filho homem. O Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) permitiu que ele cumprisse seu voto, então ele sacrificou um camelo naquele lugar.
Pedimos a Allah que nos ajude a fazer o que Ele ama e aquilo que irá agradá-Lo. Que Allah abençoe nosso profeta Muhammad.